domingo, 3 de agosto de 2014

Alheio à nós

O hiato da noite solta e bela
De inverno vestido de primavera
Como poderia eu adivinhar e respirar
As coisas do tempo que faz sentir como ontem estivesse em meus pés?

E na penumbra da lua que sobe céu noite a dentro

Preciso sentir algo no peito que não seja vazio
Preciso embotar a parede vazia da minha cabeça com algum tom frio
Sem demora antes que o tédio ferruge minhas engrenagens
Diante desses pequenos olhos de pássaro senti-me grande

Mas somos de tempos diferentes e você precisa ir pra casa

Quando voltar na estação desta cidade cinza
Irei lembrar de você vestida como uma primavera
E do ruído insensível dos carros enquanto o sinal abria
Tudo isso faz-me querer ficar um pouco mais

Mas o tempo que me rege é forasteiro

Eu estava contente e isso que importa agora
O mais importante
é como essa memória ira envelhecer e ser esquecida
Nos últimos dias desse mesmo céu azul de ontem

No mesmo céu de fim de mundo pagão

Noite a dentro de olhos abertos no escuro
Um cego de dentro que tateia o lençol
Meu desespero calmo e silencioso
Velou um sorriso no teu peito

Floresceu alguma prece no firmamento

Te dar a mão quando não tiver mais opção
Quando chegar a hora de ser mais um estranho conhecido
E faço isso muito bem
O último grão de tempo acabou antes de cair o pano
E guardo nesses dias como nas gavetas de cima
A impressão que o tempo parou na nossa noite
Para atravessarmos a cidade na madrugada